A responsabilidade diante de Deus é pessoal e intransferível

Depois que Davi adulterou com Bateseba e providenciou a morte de Urias, veio a ele o profeta Natã com a difícil missão de repreender o rei.  Este é um exemplo de como pode ser desafiador o ministério profético, principalmente quando a profecia atinge a liderança. O mensageiro de Deus pode ser rotulado como rebelde e até sofrer castigos e retaliações. Naquele tempo, ele poderia até ser condenado à morte. Não foi o caso de Natã porque o coração de Davi se quebrantou em arrependimento.

O profeta usou uma sábia estratégia para transmitir o recado divino. Ele contou a parábola acerca de um homem rico que, embora possuísse muitos animais em seu rebanho, tomou a única ovelha de um homem pobre.  O rei ficou indignado com tal comportamento e rapidamente sentenciou: “Digno de morte é o homem que fez isso!”

Natã, então, volta-se para o rei e diz: “Este homem é você” (2Sm 12.7).

Da forma como Natã contou a história, Davi logo pensou se tratar de mais um caso a ser julgado pelo rei, mais um crime ocorrido em Israel. Julgar os pecados alheios é fácil. Julgar a si mesmo é muito difícil.

Aquele profeta usou a linguagem que Jesus usaria, muitos séculos mais tarde, para ensinar os discípulos e repreender os fariseus. O Mestre contava parábolas que despertavam sentimentos, reações e atitudes em seus ouvintes em relação aos personagens da narrativa. Finalmente, eles percebiam que as lições se voltavam para suas próprias vidas.


A Bíblia, como um todo, fala conosco da mesma forma. Suas histórias apresentam erros e acertos de muitos homens. A boa homilética ensina os pregadores a trabalharem com todo o material bíblico, procurando direcioná-lo, sempre que possível, a uma aplicação específica na vida dos ouvintes.

É assim também que ensinamos e repreendemos as crianças: contando-lhes histórias ou fábulas onde algum personagem se identifica com elas quanto ao comportamento certo ou errado.

Deste modo, o ensinamento entra, por assim dizer, pela porta dos fundos na consciência das pessoas, driblando as barreiras normais que se colocam quando apontamos diretamente os erros de alguém.

Se Natã, ao chegar diante do rei, dissesse: “Davi, estou aqui para conversarmos sobre seus pecados de adultério e homicídio”, é provável que o rei o expulsasse do recinto sem qualquer possibilidade de diálogo.

“Este homem é você”. Não empurre a palavra e o propósito de Deus para as outras pessoas. Durante a pregação, alguém diz: “Meu vizinho precisava estar aqui para ouvir isso”.  Devemos deixar de julgar os outros quando nós mesmos somos dignos de julgamento. “Examine-se, pois, o homem a si mesmo.” (1Co 11.28.)

Na nossa identificação com os personagens bíblicos, podemos reconhecer que nos assemelhamos à vítima, algoz, cúmplice, ou apenas aos que se mostraram indiferentes ao fato.  É preciso que cada um faça uma análise sincera de sua própria vida, pedindo a Deus o discernimento necessário e permitindo que a Palavra do Senhor traga a devida correção, advertência ou alento.

Davi não discutiu com o profeta, mas assumiu a culpa, arrependendo-se de seus pecados.  Esta deve ser a nossa resposta à palavra de Deus, pois ele repreende aqueles a quem ele ama.  E uma dessas pessoas é você!

Não posso esperar que outros se alimentem por mim ou tomem o remédio, doce ou amargo, que me foi prescrito. Diante de Deus, a responsabilidade é pessoal e intransferível. Se a nossa atitude for correta perante o Senhor, diremos como o apóstolo Paulo:

“Fiel é esta palavra e digna de aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” (1Tm 1.15.)

 

 

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